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domingo, 14 de março de 2010

Que urbanismo para Coimbra? Uma estratégia concelhia, um programa autárquico.

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Era Setembro de 2009 e decorriam as eleições autárquicas em Portugal. A Comissão Política Concelhia de Coimbra organizara um debate sobre o futuro da sua cidade. À mesa juntavam-se reputados académicos e empresários. Um dos principais palestrantes, o Eng.º Gonçalo Quadros, fundador da Critical Software, foi questionado sobre como encarava o burgo onde nasceu e como deveriam os autarcas cuidá-lo.

Cosmopolita, habituado a viajar entre as diversas filiais estrangeiras da sua empresa, desabafou contristado: quando regressa a casa depois de uma estadia noutras metrópoles e reentra pela estrada em Coimbra, não gosta do que vê. Do caos, da beleza estropiada da paisagem urbana, da deficiente funcionalidade dos espaços públicos. E disse-nos que pedia aos políticos da autarquia, acima de tudo, que fizessem desta cidade um local atraente onde seja agradável e prático viver. Nada mais, nada menos.

Tais palavras dirigiram-se ao então candidato socialista à presidência do Município de Coimbra. Agora que o Partido Socialista se encontra em período de eleições internas, merece a pena evocar novamente aquela afirmação e relembrá-la aos candidatos à Comissão Política Concelhia (CPC) do PS.

Sob a simplicidade daquele apelo condensaram-se quase todas as expectativas que os munícipes depositam sobre os ombros dos autarcas. E estas expectativas resumem-se, ao fim e ao cabo, a uma só aspiração: o de um urbanismo de excelência. Todas as outras obras políticas são secundárias na esfera de actuação autárquica. Os eleitores sabem que o edil é o principal responsável político pela qualidade dos novos bairros, pela vitalidade dos centros históricos, pela funcionalidade dos acessos, pela acessibilidade da habitação, pela beleza das paisagens urbanas e rústicas. Sabem de tudo isso, ponderam-no quando contemplam a cidade e os dramáticos erros de gestão urbanística que a prejudicaram, e entregam o seu voto a quem ofereça as melhores soluções.

A problemática do urbanismo não é um fait-divers do exercício político, nem a sua tutela se trata de uma pasta menor dos executivos.
Num país como Portugal, que duplicou o parque habitacional nos últimos 20 anos e expandiu os seus perímetros urbanos como nunca dantes na sua história, as competências municipais em matéria de urbanismo deram aos autarcas a potestade de desenhar o rosto físico que o território ostentará nos próximos séculos. O magno poder de criar bairros de sonho ou subúrbios de pesadelo. De, por exemplo, transformar a estética urbana de Coimbra numa rival de belas cidades universitárias de dimensão comparável como Cambridge ou Heidelberg, ou de lhe emprestar um aspecto anódino de subúrbios sobre-densificados como a Amadora ou Gondomar. Que tem a dizer a Comissão Política Concelhia a dizer, de modo concreto e exequível, sobre a cidade que queremos — sua densidade, sua forma, sua função, seu preço?

Num mercado como o imobiliário, onde o custo de produção mais caro é o valor do solo e esse mesmo valor é formado por decisão política inerente à elaboração dos planos de ordenamento do território como o Plano Director Municipal, repousa nas mãos dos autarcas boa parte do mecanismo de formação dos preços habitacionais. Resulta, em consequência, que os edis podem pôr cobro aos mesmos fenómenos especulativos que asfixiaram o desenvolvimento harmonioso da malha urbana de Coimbra. Que estratégia seguirá a Comissão Política Concelhia ao enfrentar esta tremenda adversidade?

Numa economia como a portuguesa, cujos motores foram os sectores do imobiliário e construção deste os anos de 1980 até muito recentemente, vive-se hoje uma mudança de ciclo que liquidou aquelas actividades, deixando entretanto a nação a braços com centenas de milhar de fogos novos e vazios, à venda a preços insustentáveis para os jovens adultos. Ao mesmo tempo, crescem as fileiras dos desempregados da construção civil. Resultam, portanto, dois problemas políticos para resolver: dar vida a algum sector de actividade que se assuma como novo motor da economia, e promover a descida dos preços do imobiliário para níveis mais comportáveis para quem inicia carreira. Que contributos trará a Comissão Política Concelhia para as soluções em falta?

Por Lei, a esmagadora maioria das competências das autarquias versam matérias de urbanismo, incluindo-se neste âmbito a habitação e o ambiente. Subentende-se da ordem jurídica portuguesa que responsabilidades públicas de maior latitude competem aos Governos. Concentre-se sobretudo o autarca em produzir urbanismo de excelência — cidades atraentes, funcionais, a preços acessíveis — e estarão criadas as condições para fixar população, criar indústria e serviços, e gerar riqueza. Discutamos, portanto, como socialistas e como conimbricenses, as opções concelhias para a nossa intervenção autárquica.

Pedro Bingre do Amaral.

5 comentários:

  1. O camarada Pedro Bingre põe o dedo na ferida: a maior parte das competências das autarquias versam matérias directamente ligadas à qualidade de vida dos seus munícipes, quer pelo seu poder de intervenção na gestão urbanística, quer pela definição dos PDM's. Dada a degradação da cidade de Coimbra nas últimas décadas, a Comissão Política Concelhia do PS/Coimbra tem pois o dever de discutir e de se pronunciar claramente, sem subterfúgios, sobre o que pretende para o Concelho de Coimbra. Só assim os conimbricenses poderão decidir em consciência em que alternativas políticas deverão entregar o seu voto, para que se possa construir a Cidade/concelho em que sonham viver.

    A candidatura de Paulo Valério está pois de parabéns, não apenas pelo ciclo de debates que vai levar a cabo, mas também pelo tema que escolheu para lhe dar início

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  2. O urbanismo de excelência a que se refere Pedro Bingre, construído a partir da autarquia passará antes de mais pela produção de um modelo de “cidade”, a cidade que se deseja, a cidade que se pretende. Esse modelo será a matriz de articulação das políticas sectoriais e, desse modo permitirá a construção de um espaço urbano com conteúdo económico e social e, desse modo, sustentável.

    Será antes de mais imperativo (d)escrever a Coimbra que queremos para a partir daí lançar as mãos à obra e construir verdadeiramente “Coimbra com Futuro”. A cidade do “sim”, a cidade “com”, a cidade “onde”. Uma cidade criativa, produtiva, ambientalmente responsável, livre, justa, e feliz.

    O primeiro passo está dado com a criação de um ambiente de debate aberto e plural, devemos isso a Paulo Valério.

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  3. Uma vez mais, a candidatura de Paulo Valério à CPC do PS/Coimbra, demonstra o seu dinamismo, através do lançamento de duas novas iniciativas: um ciclo de debates, com a ousadia de se realizarem quinzenalmente e com convidados das mais diversas áreas da ciência e do conhecimento, por um lado; um Fórum que permite a participação de todos quantos o pretendam, pelo interesse que os temas lhes possam suscitar, pelo contributo que queiram imprimir à discussão em torno dos mesmos, ou simplesmente pelo debate de pontos de vista distintos, porém certamente complementares, por outro.

    A candidatura do Paulo Valério está, pois, de parabéns!

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  4. Não sei se terá muito a ver, mas, com a quantidade de trabalho precário que existe no país, e a consequência disso, que são os trabalhadores deslocados, é necessário que se desenvolva o mercado de arrendamento na habitação.
    Em termos de ambiente, deve dar-se incentivos para a construção de edifícios que permitam poupar energia.

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  5. O debate de ontem foi a demonstração cabal da força, do dinamismo, que esta candidatura demonstra todos os dias. A participação de dezenas de militantes no debate de ontem mostra-nos, que existe a convicção de que este projecto é ganhador. Coimbra tem futuro com iniciativas como esta. Parabéns

    João Pedro Chicória

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