Passaram 36 anos do 25 Abril de 1974. Muitos de nós vivemos esse período como o momento em que todos os idealismos e utopias libertadoras eram possíveis. Era o início de um futuro sem injustiças, o sonho de uma terra de fraternidade, como na canção celebrizada na voz do Zeca Afonso nessa longínqua madrugada.
Infelizmente, os sonhos de Abril e a esperança num país avançado, desenvolvido e justo têm vindo a morrer aos poucos, ano após ano, dando lugar a um sentimento de descrença, de fatalismo, e de inelutabilidade perante a persistência das injustiças, do atraso, e de défices democráticos em diversos domínios.
É certo que houve progressos inquestionáveis ao longo de mais de três décadas de institucionalização da nossa democracia. Na educação, na saúde, na ciência, na cultura, etc., Portugal deu passos importantes no seu desenvolvimento. Mas os atrasos estruturais permanecem em diversas áreas, e é por isso que os impactos da crise que vivemos se fazem sentir de forma tão drástica.
Neste quadro de dificuldades, a cidadania plena está longe de ser alcançada. As instituições democráticas perdem eficácia e transparência, levando os cidadãos a descrer em número cada vez maior no futuro da democracia. A “classe política” e os partidos políticos tornaram-se nos maiores factores de desconfiança por parte dos portugueses. Paralelamente, crescem o desespero e o descontentamento de milhares de desempregados, de famílias em risco de pobreza e de jovens que não vislumbram uma fresta de futuro após concluírem a sua formação escolar (inclusive universitária). Perante estes problemas, as estruturas sindicais e os seus modos de actuação ou estão enfraquecidos e impotentes ou desajustados da actual realidade laboral e, assim, impedidos de responder aos problemas dos trabalhadores mais precarizados e dos desempregados.
Nenhuma democracia pode ser forte se não for sustentada por uma sociedade civil activa, consciente e organizada. Partidos políticos, instituições e sindicatos só poderão renovar-se e revigorar-se se os cidadãos organizados em associações e os movimentos sociais forem reactivados. Precisamos de resistir contra a tendência de corrosão generalizada das instituições democráticas, e consequentemente, de divórcio irreversível entre os cidadãos e essas mesmas instituições. Os partidos políticos, sobretudo os grandes – alucinados pelo exercício do poder político – tendem a renegar os seus valores e a promover oligarquias movidas por interesses privados, desprezando o debate de ideias, a vontade dos militantes e a opinião dos seus eleitores.
Ora, é precisamente por estes motivos que o associativismo e os movimentos sociais voltam a ganhar importância e actualidade. Muitos militantes, simpatizantes e eleitores do PS afastam-se da actividade política devido a esta situação preocupante e que pode, a prazo, por em causa o próprio regime democrático. É, por isso, fundamental e urgente promover o debate em torno destes problemas. Travar e inverter estas tendências é uma obrigação dos socialistas que não querem abdicar dos seus princípios e ideais, e que acreditam ser possível recuperar a esperança e realizar as promessas de Abril.
Elísio Estanque
segunda-feira, 26 de abril de 2010
36 depois de Abril – democracia e associativismo
às 11:27
Etiquetas: Associativismo e Participação
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