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domingo, 11 de abril de 2010

COIMBRA – QUE DESENVOLVIMENTO? QUE MODELO SOCIAL?

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“Se meto os pés para dentro, a partir de agora
Eu meto-os para fora
Se dizia o que penso, eu posso estar atento
E pensar para dentro
Se queres que seja duro, muito bem eu serei duro
Se queres que seja doce, serei doce, ai isso juro
Eu quero é ser o tal
E como o tal reconhecido
Assim, digo-te ao ouvido

Se eu mandasse neles, os teus trabalhadores
Seriam uns amores
Greves era só das seis e meia às sete
Em frente ao cacetete
Primeiro de Maio só de quinze em quinze anos
Feriado em Abril só no dia dos enganos
Reivindicações quanto baste mas non tropo
- Anda beber mais um copo

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego”


Sérgio Godinho, um dos nossos mais notáveis cantautores, editou em 1979 o disco Campolide, onde se destaca o tema “Arranja-me um emprego”. O excerto acima sugere a mansidão a que frequentemente se dispõe o Homem, quando o que estaá em causa é governar a vida. À parte do que se possa dizer sobre as concessões a que a necessidade obriga, faz sentido recordar aquele tema hoje, quando se discute o desenvolvimento de Coimbra.

Apesar da bravura de algumas consciências, não cremos poder o Homem tornar-se verdadeiramente livre, enquanto não estejam garantidas as condições da sua própria subsistência. E, desse ponto de vista, se há em Coimbra um problema de falta de emprego e de falta de empresas, haverá certamente menos Liberdade do que gostaríamos e seremos todos, nessa medida, menos Cidadãos.

É por isso importante encarar o problema de frente. Sem ter como ponto de partida – e de chegada! - a ideia bizarra de que Coimbra está condenada, “vocacionada” até, a ser um cidade de serviços; e sem persistir nos clichés do costume, aqueles que, simplesmente, pretendem aplicar um choque tecnológico a Coimbra, coisa que, repetida à exaustão, parece não chocar já rigorosamente ninguém.

Não vemos em que momento da história coimbrã se identifica a irremediabilidade genética de nos especializarmos em passar certidões e carimbar selos; nem nos inspira o horizonte tecnológico, se isso implicar desistir dos desempregados da Poceram, da Real Cerâmica, da USID e de outras mais que hão-de vir.

Ante a degradação dos sectores tradicionais e a reluzência das tecnologias, o caminho não pode ser, não deve ser, à partida, destruir todo o sector produtivo para construir um edifício de raiz. A mudança far-se-á, talvez, comprometendo todos com um modelo de desenvolvimento que seja económico, mas que seja também social. Está por provar, para começo de conversa, que não possam as tecnologias ser também factor de reabilitação dos sectores tradicionais, além de serem, por si só, um filão a explorar.

A menos, claro, que se deseje uma cidade sem oportunidades. Um território de privilégio para alguns e de exclusão para a maioria, em que o emprego deixe de ser um direito e passe a ser, afinal, como na canção do Sérgio Godinho, um favor.

4 comentários:

  1. O modelo social de Coimbra discute-se, indiscutivelmente !?!, pelas estruturas sociais estabelecidas e que vão regendo Coimbra no seu insucesso. Num ciclo de mau vício a cidade dos doutores, por muito e por muita culpa, de uma classe política acéfala sobrevive na dependência - quem não se lembra da opinião generalizada que se tinha da (falsa?)ideia de Machado em deixar Coimbra "desindusstrializada" para assim conviver com a segurança e com o conforto que dai advinha para as classes coimbrãs mais favorecidas? Coimbra sobrevive ou vai vivendo.
    Quanto não somos, os que não sendo filhos de privilegiados, sentem a sua ambição presa aos desígnios que a cidade não facilitou?
    Posso, com certeza que posso, afirmar que existe uma lacuna de ambição em Coimbra. Não pelo desmérito pessoal dos jovens de cá, mas por um forte exemplo a montante que os torna fracos na foz do desenvolvimento que por eles pode ser criado.
    São, contudo, os de Coimbra, uns felizardos no que diz respeito ao sucesso fora de portas.
    É, evidentemente, um problema endémico e que deve ser combatido com a força da mudança que só a classe política pode infligir à sociedade.
    Força Valério, Coimbra precisa de ideias com Futuro.

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  2. Além da questão do emprego, é preciso tratar também da questão da formação, pois não adianta muito ter empregos à disposição se as pessoas não têm formação para exercer as funções que implicam os ditos empregos.
    É preciso também dar formação adequada às ofertas do mercado de trabalho a todos os licenciados que não conseguem arranjar emprego porque têm as qualificações erradas. É o caso notável dos licenciados das Línguas e das Letras.

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  3. Desde que abracei Coimbra como a minha "terra", existiu sempre uma dúvida para a qual nunca consegui encontrar explicação.
    Este concelho tem uma localização geográfica privilegiada em relação ao eixo Lisboa – Porto e tem das melhores acessibilidades rodoviárias e ferroviárias. Perante esta realidade por que motivo tem Coimbra tanta dificuldade em manter as suas fábricas e atrair novas indústrias dos mais variados sectores?
    O desenvolvimento económico e social das regiões sempre foi motivo para a construção das infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias. Ainda recentemente o Secretária-Geral do PS defendeu o avanço da construção da auto-estrada para Bragança como factor primordial para o desenvolvimento daquela região.
    Assim deixo a pergunta: Não deverá Coimbra, em parceira com os concelhos envolventes, apostar na promoção desta região evidenciando as excelentes infra-estruturas que tem, bem como mostrar aos investidores que a instalação das suas empresas nesta região é um factor de desenvolvimento para as mesmas e que no futuro trará o tão desejado retorno financeiro?
    Não será esta estratégia um factor importante para o desenvolvimento económico e social do nosso concelho?
    Ficam as perguntas para o excelente painel que vamos ter no debate promovido por esta candidatura.

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  4. Aqui vai a minha contrbuição:

    - O primeiro pressuposto é que sem produzir riqueza, não é possivel ter qualquer tipo de desenvolvimento, incluindo o social e cultural.

    - Coimbra tem serviços altamente diferenciados na área da saude e tecnologia (IPN, Centro de Ceramica e Vidro, o pouco conhecido ITECons - um pequeno LNEC! - por exemplo) o que é excelente e já é uma marca da cidade. No entanto, isso não é suficiente.

    - para ser uma cidade de referência regional, nacional e até internacional, é preciso massa critica em várias áreas (talvez agora só exista mesmo na saude) o que se consegue atraindo quadros qualificados e, por arrastasmento, pessoal técnico menos qualificado de forma a atingir um nivel demográfico de maior destaque a nível nacional - 200.000 ou 250.000 habitantes no concelho.

    - isto só se conegue com uma politica pro-activa em procurar investimento de vários tipos, fazendo valer o que já existe (Coimbra é dos concelhos com maior percentagem de licenciados em relacao à população), criando condicões muito boas para o estabelecimento de novas empresas, sobretudo as que trazem mais valor acrescentado. É necessario acabar de vez com o preconceito, que creio que existiu no PS (e na esquerda em geral) de que as empresas ou os empresários são intrinsecamente maus ou pelo menos não são recomendáveis. Podemos ver à volta da Coimbra concelhos com presidentes da câmara extremamente pró-activos na procura de investimento (não foi à toa que o biocant foi para Cantanhede - neste momento já a maior referência em biotecnologia em Portugal).

    - finalmente, tal como foi referido no debate, é preciso unir, convocar todos os actores relevantes e fazê-los trabalhar em conjunto, em rede, criando sinergias onde possível, passando por cima dos pequeninos feudos e protagonismos mesquinhos. É preciso ter um espírito visionário e de missão, nunca se conformando com o presente, mesmo que seja bom (a ambição de que falou Gonçalo Quadros), e pensando sempre no bem mais geral, que é o progresso de Coimbra (e da sua região!) e secundarizando tudo o resto.

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